Efeitos neuroprotetores da psilocibina em modelo animal de AVC

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade em adultos. Atualmente, a terapia aprovada pelas agências regulatórias é o ativador do plasminogênio tecidual, um medicamento que dissolve coágulos sanguíneos, e que demonstra maior eficácia quando administrado nas primeiras horas após o início do AVC. Devido à janela de tempo restrita, há uma necessidade urgente de novos tratamentos.

Entre as substâncias investigadas, os psicodélicos clássicos, como a psilocibina, têm demonstrado potencial promissor. Um estudo recente com modelos animais descobriu que a psilocibina pode reduzir a área danificada do cérebro (infarto cerebral) e melhorar a recuperação motora em ratos.

Diferentes formas de administração da psilocibina foram exploradas no estudo, com os cientistas ajustando os esquemas de dosagem de acordo com o tipo de experimento. Em culturas de neurônios corticais, a substância foi adicionada em um ponto específico do desenvolvimento celular. Já em ratos, a psilocibina foi administrada antes e após a indução do AVC, com variações na frequência e duração do tratamento, dependendo da via de administração.

Resultados Promissores

Os resultados, publicados na revista científica BMC Neuroscience, mostraram diversos efeitos neuroprotetores da psilocibina:

  • Em culturas de neurônios corticais, a psilocibina reduziu a morte celular causada pelo excesso de glutamato, uma substância liberada em grandes quantidades durante o AVC e que pode provocar danos ao cérebro.

  • Quando administrada antes ou depois da indução do AVC em ratos, a psilocibina:

    • Reduziu o tamanho do infarto cerebral.

    • Melhorou a recuperação de déficits neurológicos, como a perda de equilíbrio e funções motoras e cognitivas.

    • Aumentou a atividade locomotora dos ratos.

    • Estimulou a produção de proteínas essenciais para o crescimento e reparo das células cerebrais, como MAP2 e sinaptofisina.

    • Diminuiu a inflamação cerebral, reduzindo a expressão de IBA1, um marcador de inflamação.

Mecanismo de Ação

A neuroproteção induzida pela psilocibina parece estar relacionada à sua capacidade de aumentar os níveis do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma proteína essencial para a proteção, recuperação e adaptação do cérebro após lesões. O uso de ANA12, um inibidor do receptor TrkB (que se liga ao BDNF), reduziu os benefícios da psilocibina, confirmando a relevância desse mecanismo.

Implicações Clínicas

Este estudo sugere que a psilocibina pode representar uma nova abordagem terapêutica promissora para o AVC. A substância demonstrou uma janela terapêutica relativamente ampla, com efeitos positivos mesmo quando administrada de três a sete dias após o AVC.

No entanto, é fundamental lembrar que este estudo foi realizado em animais. Mais pesquisas são necessárias para avaliar a segurança e eficácia da psilocibina em humanos. Além disso, as doses administradas em ratos foram significativamente maiores do que as usadas em estudos clínicos com humanos, levantando questões sobre a dosagem ideal em futuros ensaios clínicos.

Referência

Yu SJ, Wu KJ, Wang YS, Bae E, Chianelli F, Bambakidis N, Wang Y. Neuroprotective effects of psilocybin in a rat model of stroke. BMC Neurosci. 2024 Oct 8;25(1):49. doi: 10.1186/s12868-024-00903-x. PMID: 39379834; PMCID: PMC11462742.

Disponível na íntegra:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11462742/

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