Analisando o uso de psicodélicos na América Latina: quem, como e por quê?
Um novo estudo publicado na revista Scientific Reports apresentou um panorama sobre o uso de psicodélicos por adultos na América Latina, revelando as características dos usuários e suas práticas. A pesquisa investigou o “uso regular”, definido como o consumo de psicodélicos por no mínimo três anos, com uma frequência de quatro ou mais vezes por ano.
Conduzido pelos pesquisadores Véliz-García e Domic-Siede, da Universidad Católica del Norte, no Chile, o estudo baseou-se em um questionário online que envolveu 4.270 participantes de países como Chile, Colômbia, Peru, Argentina, Bolívia, Equador e Uruguai.
O perfil dos usuários de psicodélicos
Entre os participantes, os cogumelos psilocibinos foram os psicodélicos mais consumidos, com 88,8% relatando seu uso. A análise dos dados demográficos revelou algumas correlações interessantes:
Estudantes demonstraram uma propensão significativa ao uso regular de cogumelos Psilocybe.
Pessoas que não seguem nenhuma religião ou credo apresentaram maior probabilidade de consumi-los com frequência.
Indivíduos com renda mensal inferior a US$ 648 também têm maior tendência ao uso regular, sugerindo que o baixo custo dos cogumelos psilocibinos pode ser um fator importante para sua acessibilidade.
Contextos e motivações para o uso
Os pesquisadores também exploraram os contextos e motivações por trás do consumo de psicodélicos. O uso em casa foi o cenário mais comum para o consumo de cogumelos psilocibinos, seguido por ambientes ao ar livre. Além disso, 44,7% dos participantes relataram consumir os cogumelos sozinhos, enquanto 40% mencionaram o uso com um parceiro.
A principal motivação para o consumo regular foi a busca por bem-estar psicológico durante a experiência, acompanhada por benefícios espirituais e uma sensação de calma que persiste após o uso.
Uma reflexão sobre o espectro legal
Embora o estudo não se aprofunde nas questões legais, ele destaca que as leis proibitivas que regem o uso de psicodélicos na maioria dos países da América Latina não impedem o consumo dessas substâncias. O maior risco está na falta de regulamentação, que expõe os usuários a riscos.
Essa constatação sugere a necessidade de uma reavaliação das estruturas regulatórias pelos governos latino-americanos. Em vez de simplesmente proibir, os autores defendem a criação de modelos que permitam o uso informado e seguro, aproveitando o potencial terapêutico dos psicodélicos e minimizando os riscos associados ao contexto de autotratamento.
Referência
Véliz-García O, Domic-Siede M. Latin American adults who regularly use macrodoses of psychedelics: a cross-sectional study. Sci Rep. 2024 Oct 13;14(1):23921. doi: 10.1038/s41598-024-74590-3. PMID: 39397094.
Disponível na integra:
https://www.nature.com/articles/s41598-024-74590-3