Comparação dos efeitos da psilocibina e do escitalopram na depressão: resultados de um ensaio clínico de fase 2

📸The Lancet

A terapia com psilocibina tem demonstrado produzir efeitos antidepressivos rápidos e duradouros em pacientes com transtorno depressivo maior (TDM). No entanto, ainda há poucas comparações de seus efeitos a longo prazo com os tratamentos padrão-ouro para o TDM, como a farmacoterapia e a psicoterapia, seja isoladamente ou em combinação.

Para abordar essa lacuna, pesquisadores do Imperial College London publicaram recentemente na revista eClinicalMedicine os resultados de um ensaio clínico de fase 2, duplo-cego, randomizado e controlado, com duração de 6 meses, envolvendo 59 pacientes com TDM moderada a grave. Os participantes foram randomizados em uma proporção de 1:1 para receber terapia com psilocibina (TP) ou tratamento com escitalopram (TE). No grupo TP, os pacientes receberam duas doses de 25 mg de psilocibina administradas por via oral, separadas por 3 semanas, sendo a primeira dose na visita 2 e a segunda na visita 4, ambas acompanhadas de suporte psicológico nos dias de dosagem e em sessões subsequentes de integração.

Já no grupo TE, os participantes receberam uma dose inicial de 1 mg de psilocibina na visita 2, seguida de doses diárias de 10 mg de escitalopram durante as três primeiras semanas, com um aumento para 20 mg diários nas três semanas seguintes. Uma segunda dose de 1 mg de psilocibina foi administrada na visita 4, enquanto cápsulas de placebo foram administradas nos demais dias.

A principal medida de desfecho foi a alteração no escore do Inventário Rápido de Sintomatologia Depressiva – Autoavaliação de 16 itens (QIDS-SR-16), que foi analisada na 6ª semana. Durante o acompanhamento de 6 meses, foram monitoradas medidas secundárias relacionadas ao funcionamento social, conexão psicológica e sentido de vida.

Ao final do período de acompanhamento, 25 participantes do grupo de psilocibina e 21 do grupo de escitalopram completaram o estudo. Os resultados indicaram que ambos os tratamentos levaram a melhorias sustentadas na gravidade dos sintomas depressivos. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos no que se refere ao desfecho primário de redução de sintomas depressivos. Em contrapartida, os desfechos secundários revelaram que a TP resultou em melhores índices de funcionamento psicossocial, sentido de vida e conexão psicológica, em comparação ao escitalopram.

Embora promissores, esses achados são preliminares e devem ser interpretados com cautela. Os pesquisadores destacam importantes limitações do estudo, como o baixo poder estatístico para detectar diferenças sutis entre os tratamentos, dados ausentes, o uso potencial de intervenções adicionais no período de acompanhamento e a dependência de autorrelatos dos participantes. Esses fatores podem influenciar a interpretação dos resultados e devem ser levados em consideração na avaliação das conclusões do estudo.

Referência

Erritzoe, D., Barba, T., Greenway, K. T., Murphy, R., Martell, J., Giribaldi, B., Timmermann, C., Murphy-Beiner, A., Jones, M. B., Nutt, D., Weiss, B., & Carhart-Harris, R. (2024). Effect of psilocybin versus escitalopram on depression symptom severity in patients with moderate-to-severe major depressive disorder: Observational 6-month follow-up of a phase 2, double-blind, randomised, controlled trial. eClinicalMedicine, 0(0), 102799. https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2024.102799.

Disponível na íntegra:

https://www.thelancet.com/journals/eclinm/article/PIIS2589-5370(24)00378-X/fulltext

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