Uma análise detalhada sobre o uso de psicodélicos por minorias étnicas e raciais dos Estados Unidos

Resumo dos principais achados:

  • O uso de psicodélicos está associado a menor sofrimento psicológico
    para negros e hispânicos, mas essa relação não é significativa quando se
    leva em consideração a desigualdade socioeconômica.

  • Em contraste, brancos não-hispânicos continuam a experimentar
    benefícios do uso de psicodélicos, mesmo considerando o status
    socioeconômico.

  • O racismo sistêmico nos Estados Unidos contribui para piores resultados
    de saúde mental entre as minorias étnicas e raciais, limitando os
    benefícios potenciais dos psicodélicos.

Evidências crescentes sugerem que as minorias étnicas e raciais podem experimentar efeitos reduzidos dos psicodélicos na saúde mental. Uma teoria propõe que o racismo, manifestado pela desigualdade socioeconômica, poderia explicar parcialmente esse fenômeno. No entanto, ainda não está claro se o uso de psicodélicos entre essas populações minoritárias está associado ao mesmo nível de benefícios terapêuticos observados em brancos não-hispânicos.

Para esclarecer essas questões, um estudo utilizou dados coletados entre 2008 e 2019 na National Survey on Drug Use and Health (N = 458.372) – uma pesquisa de um órgão estatal dos Estados Unidos que fornece informações sobre drogas e problemas de saúde. O objetivo foi investigar o impacto do uso de vários psicodélicos (MDMA, psilocibina, DMT, ayahuasca, peyote/mescalina e LSD) no sofrimento psicológico, levando em consideração fatores socioeconômicos (nível de escolaridade e renda familiar) e diferenças raciais/étnicas (brancos, negros, hispânicos e asiáticos).

Os resultados do estudo mostraram que o status socioeconômico afeta significativamente os desfechos de saúde mental relacionados ao uso de psicodélicos. Embora o consumo dessas substâncias, especificamente a psilocibina, tenha sido associado a um menor sofrimento psicológico entre negros e hispânicos, essa relação não se manteve significativa quando se considerou a desigualdade socioeconômica.

O uso de psicodélicos permaneceu correlacionado com níveis mais baixos de sofrimento para brancos não-hispânicos, mesmo controlando-se o status socioeconômico. Fatores como nível educacional e renda familiar mais altos fortaleceram a associação positiva entre o uso de psicodélicos clássicos ao longo da vida e a redução do sofrimento em brancos não-hispânicos. Entre negros não hispânicos com alto status socioeconômico, somente o DMT foi associado a menor sofrimento.

Para os asiáticos não-hispânicos com alta renda, o uso de LSD foi associado a níveis mais baixos de sofrimento, o que pode indicar que estão usando psicodélicos como uma forma de automedicação, possivelmente devido ao estigma cultural em torno da saúde mental. Em contrapartida, entre os asiáticos com maior escolaridade e renda, o uso de certos psicodélicos foi associado a um aumento do sofrimento.

Mas por que o uso de psicodélicos não está associado a melhores resultados de saúde mental para negros e hispânicos? A resposta está no papel fundamental do racismo nos EUA, que contribui para resultados negativos de saúde e desigualdades entre as minorias raciais e étnicas. Pesquisas anteriores mostraram que a discriminação leva a piores resultados de saúde física para as minorias. Indivíduos negros, por exemplo, têm maior probabilidade de sofrer maus tratos generalizados e cotidianos, o que está ligado a angústia, doença mental, menor duração e eficiência do sono, inflamação sistêmica e comportamentos negativos de enfrentamento (como tabagismo). Similarmente, os latinos também relatam taxas mais altas de discriminação e violência étnica, levando ao aumento do uso de substâncias, angústia diária e problemas de saúde mental.

Apesar das limitações, este estudo revela que a desigualdade socioeconômica desempenha um papel significativo na determinação dos benefícios psicodélicos experimentados pelas populações minoritárias. O autor do estudo conclui que, mesmo que indivíduos marginalizados experimentem benefícios em ambientes clínicos, ainda não é certo se eles continuarão a desfrutá-los em suas vidas cotidianas. Sem lidar com o racismo e a desigualdade estrutural, é improvável que os psicodélicos melhorem significativamente a saúde mental dos grupos marginalizados, exacerbando assim as disparidades existentes.

Referência
Vina SM. Minorities’ Diminished Psychedelic Returns: Income and Educations
Impact on Whites, Blacks, Hispanics, and Asians. J Racial Ethn Health
Disparities. 2024 May 16. doi: 10.1007/s40615-024-02023-y.

Disponível na íntegra em:
https://link.springer.com/article/10.1007/s40615-024-02023-y

Anterior
Anterior

Explorando o potencial transformador das experiências fora do corpo

Próximo
Próximo

Impacto da experiência psicodélica na saúde mental e engajamento social de adultos autistas