Impacto da experiência psicodélica na saúde mental e engajamento social de adultos autistas

Um estudo publicado na revista científica Psychopharmacology investigou os efeitos das experiências psicodélicas na saúde mental e no engajamento social de adultos autistas. Os dados foram coletados por meio de um questionário online que envolveu 233 participantes, dos quais 136 (58,4%) relataram ter um diagnóstico formal de autismo por um profissional de saúde, enquanto 97 (41,6%) se autoidentificaram como autistas, sem diagnóstico formal.

A maioria dos participantes havia utilizado LSD (n = 116; 49,8%) ou psilocibina (n = 101; 43,5%). Os resultados indicaram que a maior parte dos participantes associou a redução do sofrimento psicológico, da ansiedade social e o aumento do engajamento social a uma experiência psicodélica significativa:

  • Redução do sofrimento psicológico: 82% relataram uma diminuição de sintomas como depressão, ansiedade e estresse, com essa melhora ligada ao aumento da flexibilidade psicológica.

  • Melhora na ansiedade social: 78% indicaram uma redução na ansiedade social após a experiência psicodélica.

  • Aumento no engajamento social: 70% relataram maior engajamento social, associado a uma maior sensação de conexão e uma percepção de melhor adaptação social.

  • Impacto positivo na autopercepção: Alguns participantes descreveram um entendimento mais profundo e uma melhor apreciação de suas características autistas após a experiência.

Vale ressaltar que esses achados são baseados em percepções dos participantes e não estabelecem uma relação causal direta entre as experiências psicodélicas e as mudanças relatadas.

O estudo também sugere que a qualidade da experiência psicodélica influencia os resultados:

  • Experiências místicas: Sentimentos intensos de unidade, admiração e percepções profundas foram associados a melhorias na saúde mental, embora o efeito tenha sido pequeno.

Por outro lado, uma parte dos participantes relatou efeitos adversos:

  • Experiências desafiadoras: 11% (n = 26) relataram aumento do sofrimento psicológico após a experiência, com relatos de medo, angústia e paranoia.

Além disso, a pesquisa apontou que a intensidade da experiência psicodélica e a flexibilidade psicológica foram preditores importantes da redução do sofrimento psicológico.

Conclusões

Embora este estudo seja exploratório e apresente limitações, ele destaca a necessidade de mais pesquisas sobre o uso de psicodélicos em pessoas autistas, com foco na segurança e no bem-estar. A condução ética das pesquisas é crucial, especialmente considerando o histórico de uso inadequado de psicodélicos em crianças autistas entre 1959 e 1974. Durante esse período, crianças a partir de 4 anos foram submetidas a doses moderadas e altas de psicodélicos, o que resultou em graves efeitos adversos, como autolesão, convulsões e crises de pânico. Dada a vulnerabilidade dessa população, é essencial lembrar que o uso de psicodélicos fora de contextos clínicos controlados e sem supervisão adequada pode representar riscos à saúde mental.

Referência

Stroud J, Rice C, Orsini A, Schlosser M, Lee J, Mandy W, Kamboj SK. Perceived changes in mental health and social engagement attributed to a single psychedelic experience in autistic adults: results from an online survey. Psychopharmacology (Berl). 2024 Oct 5. doi: 10.1007/s00213-024-06685-8. Epub ahead of print. PMID: 39367164.

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