Explorando os efeitos cognitivos da psilocibina
Uma revisão sistemática de 20 estudos analisou os efeitos da psilocibina na função cognitiva, buscando compreender seus potenciais benefícios e riscos. A revisão incluiu 2.959 participantes, sendo que 85% eram voluntários saudáveis que receberam doses de 45 μg/kg a 30 mg/70 kg de psilocibina.
Os resultados variaram entre os diferentes domínios cognitivos, evidenciando que a psilocibina exerce implicações complexas no cérebro, influenciando aspectos como atenção, memória de trabalho, processamento emocional, cognição social, flexibilidade cognitiva, função executiva e memória, com efeitos mais pronunciados em pacientes com depressão resistente ao tratamento (DRT). Nesse grupo, foram observadas melhorias em áreas específicas da função cognitiva, como:
Atenção Sustentada: Houve um aumento na capacidade de manter o foco em atividades que requerem concentração contínua, facilitando a realização de tarefas diárias.
Memória de Trabalho: As melhorias nessa área indicaram que os pacientes foram capazes de processar e utilizar informações de forma mais eficaz, o que pode ser particularmente útil em contextos que exigem planejamento e resolução de problemas.
Função Executiva: Os resultados mostraram que os pacientes se tornaram mais adeptos a tomar decisões, gerenciar comportamentos e emoções, e suprimir respostas impulsivas. Isso contribuiu para um melhor funcionamento em suas vidas diárias e no enfrentamento de desafios.
Embora alguns domínios cognitivos possam ser prejudicados durante a fase aguda da experiência — quando os efeitos imediatos da psilocibina são mais intensos, especialmente em doses mais altas — as análises indicam que, após essa fase, surgem benefícios potenciais, como o aumento da flexibilidade cognitiva, da empatia e do processamento emocional. Essas habilidades são fundamentais para estabelecer conexões sociais profundas e oferecer apoio emocional.
Além disso, a psilocibina parece ter dois efeitos distintos na criatividade e na flexibilidade cognitiva. Durante a fase aguda, pode ocorrer uma redução temporária na criatividade e na capacidade de se adaptar a novas situações. Por outro lado, após essa fase, as pessoas podem apresentar um aumento na habilidade de gerar ideias inovadoras, sugerindo que a psilocibina pode ajudar a melhorar a forma como pensamos e nos adaptamos após a experiência inicial.
Em relação à aprendizagem e memória, a psilocibina mostrou potencial para ajudar em tipos específicos de memória, como a capacidade de fazer associações de ideias e aprender por meio de conexões entre informações. No entanto, seus efeitos na memória episódica — que se refere a lembrar de eventos específicos da nossa vida — e na memória verbal — que envolve recordar palavras e informações faladas — foram menos significativos em comparação com outras substâncias que também melhoram a cognição. Os mecanismos pelos quais a psilocibina influencia a memória ainda estão sendo investigados, com hipóteses que incluem a interação com os receptores de serotonina, mudanças na conectividade neural e a própria experiência psicodélica.
Essa revisão destaca o potencial terapêutico da psilocibina, principalmente para condições como a depressão resistente ao tratamento. Embora os achados sejam promissores, os pesquisadores ressaltam que é crucial realizar mais estudos para compreender plenamente os mecanismos complexos envolvidos e as implicações a longo prazo da psilocibina na cognição humana.
Referência
Meshkat S, Tello-Gerez TJ, Gholaminezhad F, Dunkley BT, Reichelt AC, Erritzoe D, Veremetten E, Zhang Y, Greenshaw A, Burback L, Winkler O, Jetly R, Mayo LM, Bhat V. Impact of psilocybin on cognitive function: A systematic review. Psychiatry Clin Neurosci. 2024 Oct 1. doi: 10.1111/pcn.13741. Epub ahead of print. PMID: 39354706.
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