Raízes espirituais e terapêuticas: a importância dos cogumelos psilocibinos nas culturas indígenas mexicanas

Primeira página do códice “Yuta Tnoho”. Créditos: Maarten E.R.G.N. Jansen.

Desde tempos antigos, os cogumelos psilocibinos desempenham um papel fundamental nas culturas indígenas do México, especialmente em contextos xamânicos. Entre os muitos registros históricos, o códice Yuta Tnoho, da cultura mixteca e datado de 1500 d.C., destaca-se como um dos exemplos que evidenciam a importância desses cogumelos em rituais antes da colonização.

Apesar da destruição das culturas pré-colombianas pela Inquisição espanhola e do impacto da guerra às drogas nos anos 1960, o uso de cogumelos psilocibinos continua vivo em grupos étnicos mexicanos, como Chatinos, Chinantecas, Mazatecas e Zapotecas. Essa continuidade reafirma a profunda conexão dos indígenas com suas tradições e serve como um ato de resistência cultural.

Esses povos acreditam que os cogumelos psilocibinos induzem estados alterados de consciência, possibilitando experiências espirituais profundas e promovendo diagnósticos e curas durante cerimônias conduzidas por xamãs. Além disso, essas práticas tradicionais são aplicadas no tratamento de condições como ansiedade, reumatismo, dores de dente e estômago, refletindo uma abordagem holística que integra corpo e espírito.

A história mostra que o uso cerimonial dos cogumelos psilocibinos precede seu uso clínico, sendo essa tradição uma das inspirações para o crescente interesse terapêutico na psilocibina. À medida que a pesquisa psicodélica ganha importância global, é essencial respeitar as comunidades indígenas, reconhecendo sua propriedade intelectual e evitando a apropriação cultural. Valorizar esse legado é fundamental não apenas para a preservação das práticas tradicionais, mas também para promover um diálogo mais amplo sobre o potencial terapêutico dos cogumelos psilocibinos junto aos povos indígenas. Quando a medicina psicodélica tende a se apropriar dos conhecimentos tradicionais indígenas sem diálogo e reconhecimento, ignora o saber ancestral e os direitos dessas comunidades, configurando uma nova etapa da colonização. Portanto, é fundamental envolver as comunidades indígenas nas deliberações regulatórias que visam expandir o acesso à psilocibina, garantindo que suas perspectivas e direitos sejam respeitados.

Referências

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