Microdosagem de cogumelos psilocibinos e neurofeedback: explorando o impacto nas funções executivas
O interesse pela microdosagem de cogumelos psilocibinos tem crescido, embora seus efeitos a longo prazo e benefícios permaneçam controversos e inconclusivos. Em resposta a essa lacuna, um estudo recente investigou se a combinação de neurofeedback e a microdosagem poderia aprimorar funções executivas, como memória e planejamento, ao promover maior plasticidade neural.
A técnica de neurofeedback consiste na aplicação de eletrodos no couro cabeludo para captar as emissões elétricas dos neurônios. Essas emissões são transmitidas a um programa de computador que exibe em tempo real as reações do paciente, permitindo-lhe aprender a regular sua atividade cerebral. Assim, o pesquisador pode acompanhar e interpretar esses estímulos e respostas. Portanto, o neurofeedback visa estimular as habilidades naturais do cérebro, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e comportamental. Diante do crescente debate científico e público sobre os potenciais riscos e benefícios da microdosagem, este estudo buscou avaliar a viabilidade e os efeitos dessa abordagem inovadora.
Foram recrutados 37 participantes para o estudo, divididos aleatoriamente em dois grupos: um experimental (18 pessoas) e um de controle (19). Nesse grupo experimental, os participantes receberam microdoses de trufas frescas de Psilocybe mexicana duas horas antes de cada uma das três sessões de neurofeedback. Na primeira semana, durante a fase de ajuste, os participantes do grupo experimental buscaram a dosagem ideal em três dias, variando entre 0,5 g e 2 g, com a finalidade de atingir um estado mental ideal para o treinamento. A dose média consumida durante as sessões de neurofeedback foi de 1,14 g. É fundamental destacar que a concentração de psilocibina pode variar naturalmente entre as trufas, o que pode ter gerado flutuações na dose real ingerida pelos participantes e, consequentemente, limita as conclusões do estudo. O grupo de controle não recebeu microdoses durante as três primeiras semanas do estudo, iniciando o protocolo de microdosagem apenas após a conclusão das avaliações do grupo experimental.
Os resultados sugeriram que a abordagem de combinar a microdosagem com neurofeedback foi bem tolerada, sem abandono dos participantes, o que aponta para sua viabilidade. Durante as sessões, houve um aumento na atividade das ondas cerebrais ‘teta’ — uma faixa de atividade elétrica associada ao controle das funções executivas —, embora testes específicos não tenham registrado melhoras significativas nessas funções. Ainda assim, os participantes relataram avanços em habilidades cotidianas, como memória de trabalho e flexibilidade mental, indicando uma adaptação mais eficaz a mudanças. Isso sugere que a combinação da microdosagem com neurofeedback pode ter um impacto maior na capacidade dos participantes de aplicar funções executivas em situações do dia a dia do que em tarefas específicas realizadas no ambiente de pesquisa.
Com base nesses achados, os pesquisadores concluíram que o neurofeedback combinado com a microdosagem de cogumelos psilocibinos tem o potencial de trazer benefícios duradouros para o desempenho cotidiano. Levando em consideração as limitações do estudo, eles também recomendam pesquisas mais amplas, com maior número de sessões e um grupo de controle ativo, para avaliar com maior rigor a eficácia dessa abordagem na melhora das funções executivas. Futuramente, essa intervenção pode ser expandida para o tratamento de transtornos mentais e condições relacionadas ao envelhecimento, especialmente em áreas como memória, planejamento e adaptação.
Referência
Enriquez-Geppert S, Krc J, O'Higgins FJ, Lietz M. Psilocybin-assisted neurofeedback for the improvement of executive functions: a randomized semi-naturalistic-lab feasibility study. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2024 Dec 2;379(1915):20230095. doi: 10.1098/rstb.2023.0095. Epub 2024 Oct 21. PMID: 39428872; PMCID: PMC11513162.
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