Psilocibina para pacientes com câncer no Canadá: um estudo de mundo real
Em 2020, o Canadá legalizou o uso de psilocibina para algumas condições específicas, como a angústia associada ao fim da vida em doenças terminais. Com a legalização, surge a necessidade de investigar a eficácia da psilocibina no mundo real, fora dos ambientes controlados de ensaios clínicos, especialmente para condições críticas. Nesse contexto, um estudo preliminar publicado na revista Nature Scientific Reports foi conduzido para avaliar a eficácia da terapia assistida por psilocibina em pacientes com câncer terminal.
Explorando o impacto da psilocibina
O objetivo do estudo foi entender como a terapia assistida por psilocibina poderia impactar a saúde mental e a qualidade de vida desses pacientes. Por meio de autorrelatos, os pesquisadores avaliaram os efeitos da terapia assistida por psilocibina em 8 participantes com câncer terminal. Cada participante recebeu uma dose única de cogumelos Psilocybe cubensis (Golden Teacher) ou trufas, variando entre 2,5 g e 5 g. Foram realizadas avaliações psicológicas antes da sessão e duas semanas depois, utilizando questionários para medir uma variedade de fatores, incluindo sintomas psicológicos. Os resultados mostraram melhorias significativas em diversas áreas que são cruciais para a qualidade de vida desses pacientes:
Sintomas de depressão e ansiedade: houve uma redução considerável nos níveis de depressão e ansiedade.
Dor: a psilocibina proporcionou alívio da dor relacionada ao câncer.
Medo da COVID-19: no contexto da pandemia, o medo diminuiu significativamente após a sessão psicodélica.
Qualidade de vida: os participantes reportaram uma melhora substancial da qualidade de vida geral.
Bem-estar espiritual: a terapia com psilocibina impactou positivamente o bem-estar espiritual.
No entanto, as atitudes em relação à morte não sofreram alterações. Apesar da maioria dos participantes considerar as sessões altamente significativas e desafiadoras, um deles relatou uma diminuição substancial no bem-estar devido à experiência psicodélica.
Efeitos colaterais
Embora os resultados tenham sido positivos, a segurança dos pacientes é primordial e, portanto, é essencial considerar também os efeitos colaterais associados à terapia assistida por psilocibina. Os principais efeitos colaterais foram náusea/vômito, choro, dores de cabeça e suor/arrepios. Além disso, os participantes relataram dores no corpo, tremores, diarreia e zumbido nos ouvidos. Esses colaterais estão alinhados com os relatos de 27 ensaios clínicos que utilizaram psilocibina sintética, onde os sintomas mais comuns foram dores de cabeça, pressão arterial elevada (não registrada no estudo atual, por causa das limitações), náusea e ansiedade. É importante notar que todos os efeitos colaterais observados foram transitórios.
Conclusão
Esses achados não apenas reforçam a viabilidade da psilocibina como uma opção terapêutica, mas também ressaltam a importância de uma abordagem cuidadosa e informada nas discussões sobre sua implementação na prática clínica. Os autores do estudo enfatizam a necessidade de estabelecer programas de monitoramento para avaliar a eficácia e a segurança da psilocibina, assegurando uma expansão contínua do seu acesso legal no Canadá e em outros países, à medida que mais nações permitem o uso terapêutico dos psicodélicos.
Referência
de la Salle S, Kettner H, Thibault Lévesque J, Garel N, Dames S, Patchett-Marble R, Rej S, Gloeckler S, Erritzoe D, Carhart-Harris R, Greenway KT. Longitudinal experiences of Canadians receiving compassionate access to psilocybin-assisted psychotherapy. Sci Rep. 2024 Jul 17;14(1):16524. doi: 10.1038/s41598-024-66817-0.
Disponível na íntegra:
https://www.nature.com/articles/s41598-024-66817-0